sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Concordo tanto

"Quem Brilha assim é Gaga"
Por Pedro Gonçalves para a Time Out Lisboa

«Em vésperas do grande dia, Pedro Gonçalves procurou saber as razões que fazem de Lady Gaga a maior estrela pop do mundo conhecido. Sim, mesmo contando com Obama.

Como qualquer pessoa que tenha vivido acordada em Portugal nos tempos mais recentes saberá, houve em Lisboa uma cimeira política que levou ao cancelamento de um concerto avultado no Pavilhão Atlântico. Ao que parece, também levou ao emprego temporário de um número considerável de prostitutas pela mão de uma das delegações presentes, mas o facto é pouco relevante para aqui. No caso, o concerto cancelado era dos Arcade Fire, banda transportada das independências estéticas do rock para os iPods de milhões de pessoas.

Obviamente, a diplomacia unida ignorou-os e mandou-os cantar para outra freguesia. Os Arcade Fire têm dimensão nada desprezível, é certo, mas não são voz audível fora dos discos que fazem. São pouco influentes. E Lady Gaga? Seria capaz de provocar um paquidérmico incidente diplomático caso visse um concerto seu cancelado por uma patuscada de líderes? Não se admire, estimado leitor. Não se admire.

A próxima sexta-feira não é um dia de concerto como outro qualquer. Não é, sequer, parecido com a demonstração de descobertas tecnológicas aplicadas aos espectáculos que resulta em romaria pelos U2. O que para o Pavilhão Atlântico está reservado é muito maior. Quando as luzes se apagarem, não haverá apenas música e efeitos visuais. Lady Gaga carrega, no alto do seu metro e 57 centímetros, um peso bem para lá de artístico ou estético. No momento presente (e é bom não esquecer que, à luz da velha escala de medição de carreiras, estamos perante a edição de um único álbum de originais, The Fame (2008), com a adenda The Fame Monster em 2009), a jovem Stefani Germanotta ramifica a sua importância por áreas onde muito poucos ambicionam chegar. Não escreve apenas páginas de moda ou das artes plásticas da era digital. A sua existência tem implicações desbragadamente sociais e, com algumas atitudes amplamente difundidas, praticamente políticas. Quando o trono de Madonna é posto em causa com tanta veemência e em tão curto espaço de tempo, está mais ou menos tudo dito.

Lady Gaga, e isso é coisa que não só a sintoniza com Madonna como lhe atribui o estatuto de exemplo a seguir por todos os jovens fura-vidas, procurou afincadamente o topo do mundo. Pode, em boa verdade, não ter tido sempre grandes certezas das escalas, mas nunca tirou os olhos do destino. De experiências rock absolutamente frustradas a passagens pouco visíveis por clubes burlescos do Lower East Side nova-iorquino, a mulher que a Forbes colocou entre as 100 mais poderosas do mundo conheceu bem aquilo que o povo designa por travessia no deserto. Simplesmente, continuou a escrever canções e a tocá-las até ao dia em que o produtor Rob Fusari dela ouviu falar e lhe encontrou uma editora. Reza hoje a lenda que foi Fusari quem, inspirado pela dupla vencedora Nelly Furtado/ Timbaland, achou boa ideia marimbar-se para o rock feminino, apostar as fichas na mesa da pop dita dançável e levar Lady Gaga a vestir publicamente roupa que lhe revelasse a sensualidade. Moça de fibra, porém, fez boa parte do trabalho sozinha, nomeadamente sorver sofregamente a arte e a filosofia pop de Andy Warhol e assumir o desejo de adoptar a libertinagem estética ofuscante do imaginário das drag queens.

Factualmente, chega a Portugal a maior estrela pop do mundo. Born This Way, já se sabe, é o álbum agendado para 2011 e descrito pela diva rebelde como o melhor da década. E mesmo que nem um pedaço de tal obra passe pela Monster Ball Tour, um álbum (15 milhões de cópias vendias), nove singles (50 milhões), 11 vídeos, mais de mil milhões de visionamentos no YouTube e prémios acumulados em barda deverão chegar para querer ver ao vivo o que vem a ser isto.

Lady Gaga, a maior estrela pop do mundo, sobe ao palco do Pavilhão Atlântico na sexta-feira.»


E eu vou!

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