Ontem chorei a ouvir rádio. Mesmo.
Os bons trabalhos da TSF não precisam de imagens.
Os sons são suficientemente emotivos para nos fazer sentir e ver tudo a acontecer.
Ali, ao nosso lado.
É essa a magia da rádio.
O tema é cruel. Mas por entre os sons que pesam na História há risos e momentos caricatos.
Uma turma de 12º ano de Valpaços desenvolveu um projecto sobre o Holocausto que terminou numa viagem à Polónia com visita aos campos de concentração de Auschwitz - Birkenau.
Opiniões e sentimentos de miúdos que tiveram a oportunidade de conhecer um dos locais mais negros da história da humanidade. Frase feita?
Quem já lá esteve sabe que o é.
Deve ter sentido o mesmo que eu.
E o mesmo que estes miúdos sentiram.
É pesado. Triste. Dói.
Único e indescritível.
Considero uma "honra" a oportunidade de ter lá estado.
Um local que ABSOLUTAMENTE deveria ser visitado por todos.
Para que não seja esquecido.
"Pretérito mais que Presente"Um trabalho de Joana Sousa Dias com sonoplastia de Herlander Rui.
Um bem-haja por este trabalho. Obrigada*
Para ouvir sem pressas, baixinho e com tempo.
___________________________________________________
Eis o meu relato pessoal (que estava no meu velho blog), escrito em Junho de 2008, quando visitei Cracóvia e Auschwitz, numa viagem de 9 estudantes Erasmus.
Não atentem ao registo.
Na manhã seguinte o destino estava programado: visitar o local mais, como direi, respeitável da história do século XX. À chegada, optámos por ter uma guia para o nosso grupo. Óptimo! Para além de mais barato, a personalização da visita seria positiva... Facto é, que assim não o foi, por razões que só historicamente podem ser entendidas.
Tudo aconteceu há pouco tempo. Muito pouco tempo...
Assim que conhecemos a pessoa que durante mais de duas horas nos ia mostrar aquele sítio, a primeira questão que nos colocou foi sobre a nossa nacionalidade. Gelou a partir do momento em que percebeu que havia um alemão no grupo. Já me tinham avisado disso mas nunca pensei que assim fosse. As visitas guiadas ao campo de concentração de Auschwitz- Birkenau são direccionadas consoante o grupo. Se são só polacos é uma coisa, se é internacional é outra, se há um alemão no grupo, o discurso é alterado. Facto é que a partir desse momento a guia entrou em “modo” automático. Mais valia ter alugado um guia áudio ou mesmo singirmo-nos às placas informativas que preenchem o local. Durante toda a visita a mulher nunca se mostrou confortável, à vontade, afável ou simpática. A frieza preencheu-lhe os olhar.
Mais certeza tive disto quando cheguei a Ljubljana e, de imediato, a Emilia e a Joanna (polacas) me enchem de perguntas sobre a nossa viagem e, em particular, sobre a visita aos campos de concentração.
“Então, e o que é que achaste dos filmes?”
“Quais filmes?” digo eu.
“Aqueles filmes que mostram sempre no início ou no fim. Filmados lá dentro, na altura...”
“Ah, não vimos...”
“A sério? É a parte pior, é super chocante. Muita gente saí de lá a chorar... Se calhar não vos mostraram por causa do Stefan.”
Sim, parece que a visita foi tendenciosa e parcial.
À parte desta situação o que posso dizer sobre Auschwitz-Birkenau é tudo o que se imagina.
"O trabalho liberta", diz à entrada. É desértico, seco, silêncioso, enorme, plano...
As casas, que mais parecem estufas, estão correctamente alinhadas entre largos corredores. As torres de vigia. A linha do comboio.As várias vedações de arame farpado que, sabemos, na altura, era electrificado.Os microfones nos postes.
As camas. Melhor, as placas de madeira com menos de 2 metros quadrados onde dormiam 5 pessoas. O memorial que tomou lugar ao crematório.Solene. Real.
Dentro de alguns blocos de "estufas" são mostradas fotografias, histórias, caras e objectos pessoais das vítimas. Uma vitrine de malas. Outra de óculos. Outra de sapatos. Outra de cabelo. Sim, literalmente uma montanha de cabelo que depois seria usado para fazer tapetes... Vêem-se as tranças e os laços ainda.
Números que arrepiam. Impossível não sentir tudo aquilo. Impossível haver um momento de riso. A crueldade de 1 milhão e meio de mortos fala mais alto. Ecoa em todas as esquinas. Um monumento vivo. Um local de culto. Para que nunca se esqueça o que alí aconteceu.
(fotografias e Cracóvia aqui, no post original)