Fogo

O Marquês cheira a fogo. O céu está cheio de fumo e o bafo quente não deixa dúvidas de que o incêndio não está longe. Mentira. Desenganem-se. O fumo e o cheiro a queimado dos incêndios percorre graaaandes quilómetros. Lembro-me de, uma vez, há uns anos, estar no Fonte Nova e haver cinzas em todo o lado ao ponto de não conseguirmos estar na rua - o fogo lavrava em Mafra.

Os incêndios são talvez a única "catástrofe natural" que me assusta. Não tenho receios com cheias, trovoadas, vendavais... Mas incêndios, sim. Talvez porque já lá tenha "estado".

Não sei bem que idade tinha mas já não era criança quando a casa da minha avó ficou rodeada por um manto negro de tão queimado. Começou ainda longe mas depressa chegou aos terrenos que rodeiam a casa (que é "última" de uma estrada de terra na aldeia). Depois da casa da minha avó não há NADA, só floresta e mato. NADA mesmo. Passámos uma noite em branco com os bombeiros a protegerem a casa, a molharem as paredes e a tentaram acalmar a situação. Sorte foi o vento, que a meio da noite mudou para o nosso lado, porque senão não haveria água que impedisse tal era a altura das árvores, a quantidade de mato seco e a impossibilidade de acesso por parte dos bombeiros. Nos dias seguintes doía só de olhar para os montes. De verdes a negros. De vivos a mortos. Queimados, sujos.
Foram precisos mais de dois verões para que voltassem a ganhar vida.